Christian Lowe.
MOSCOU (Reuters) - A Suprema Corte da Rússia determinou na quarta-feira que o czar Nicolau 2o seja reconhecido como vítima da repressão soviética, conferindo assim uma vitória simbólica aos monarquistas segundo os quais a sentença ajudaria a separar o joio do trigo quanto ao sangrento passado daquele país.
O assassinato dos Romanov
O fim da dinastia Romanov é um daqueles episódios da história russa que, de tanto ser encobertos pela revolução bolchevique, em outubro de 1917, inspirou as mais fantasiosas versões. Depois de meses isolados em uma casa de campo, o último czar, Nicolau II, e sua família foram fuzilados em julho de 1918, na cidade de Iekaterinburgo, mais tarde chamada Sverdlovsk.
Em menos de um ano a dinastia Romanov, que governava há três séculos o Império Russo, foi posta abaixo e seus os derradeiros herdeiros fuzilados por um comando revolucionário. De março de 1917 a julho de 1918, todo o fantástico poder que Nicolau II (foto) possuía esboroou-se, desabando como se fora um castelo de cartas. O czar e sua família, aprisionados na cidade de Ekaterinburg, foram então sumariamente executados
por ordem de Lenin.
Czar Nicolau II
"Assim o quero, logo assim deve ser! Esta fórmula manifestava-se em todos os atos daquele débil soberano que fez, unicamente por fraqueza, tudo o que caracterizou seu reinado: o derramamento constante de sangue mais ou menos inocente e, na maioria das vezes, absolutamente desnecessário."
Conde Witte, ministro do Czar de 1892 a 1906
Mane, Mane, Tecel, Persin! Estas antigas e enigmáticas palavras, dizem, estavam rabiscadas na parede dum quarto da casa Ipatiev, em Ekaterinburg, onde a família Romanov inteira fora fuzilada. Presumiu-se ser a letra da czarina Alexandra, mulher devota e conhecedora da Bíblia que, um pouco antes de tombar, lembrou-se delas.
Pertencem ao Livro de Daniel ( Daniel 5.4) e dizem respeito a maldição que atingiu o Rei Baltazar da Babilônia; “Deus mediu teu reino e deu-lhe fim; tu foste pesado na balança e fosse julgado deficiente; teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas” Alexandra morreu acreditando que a Revolução de 1917 era uma rebelião da criadagem ingrata e que aqueles tipos mal encarados que prenderam o casal e seus filhos, quatro belas meninas e um garoto, deviam ser “os medos e persas”. Para Nicolau II, seu marido, eram “os judeus”.
Família Romanov ( todos assassinados pelos comunistas)
Verdadeiro isso, se esta inscrição de fato existiu , é mais um testemunho de como a Rússia Czarista era governada: os monarcas tinham a cabeça na Idade Média. Não se deve pois estranhar que o monge benzedeiro Gregory Rasputin, uma figura dostoievskiana, beberrão, devasso e semi-analfabeto, tornou-se, desde 1905 até 1916, o primeiro-ministro informal do imenso Império Russo.
Um governante repressor
A execução dos Romanov (17 de julho de 1918)
Jorge Luís Borges disse certa vez que “os inteligentes são bons”. Nicolau II era parvo e perverso. Quando soube da passeata pacifica (seu líder, o padre Gapon era um agente da polícia secreta) que os trabalhadores da capital fariam no dia 22 de janeiro de 1905 , ausentou-se do Palácio determinando que a Guarda Cossaca os dissolvesse à metralha. Esse episódio, que redundou em matança - 100 mortos e centenas de feridos - foi o célebre “Domingo Sangrento”, estopim daquela primeira revolução que Lenin chamaria de “ensaio geral”.
León Poliakov atribui a ele, a Nicolau II, a paternidade do moderno terrorismo de extrema direita, com seu entusiasmo pela Tchernaia Sotnia, a Centúria Negra, um agrupamento protofascista a quem protegia e financiava, especializado em pogroms e na morte seletiva de oposicionistas. “Os protocolos dos Sábios do Sião”, um panfleto anti-semita encomendado por um espião seu, Ratchkóvski, foi seu mais duradouro “legado intelectual”.
O sumiço dos corpos
Desde a execução dos Romanov (o czar Nicolau, a czarina Alexandra, as quatro filhas, a Grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia, e o czarevich Alexei) pelo comando do bolchevique Yakov Yurovski (1878-1938), chefe da Tchéca local, assassinados em 17 de julho de 1918, seus esqueletos haviam se extraviado nos bosques da região de Ekaterinburg. Em 1928, um destacamento da Tchéca recolhera os cadáveres e os incinerara. Descobertos os restos pelos pesquisadores Alexander Avdonin e Gely Riabov em 1979 , foram finalmente inumados na cripta da família na Catedral de Pedro e Paulo, em São Petersburgo, após um cerimônia discreta. Os russos em geral mantiveram-se ausentes, indiferentes ao sepultamento. Por mais que hoje maldigam o regime comunista eles não querem voltar a reunir-se ao redor dos ossos dos Romanov.
A intenção original dos bolcheviques era seguir a tradição das revoluções populares, como a inglesa em 1649 e a francesa em 1793, de levar o soberano caído às barras de um tribunal revolucionário e depois de submetê-lo a uma execução publica. Trótski confessou que desejava ser atuar como o principal acusador. Todavia a possibilidade dos brancos , os contra-revolucionário, virem a resgatar Nicolau II e sua família, fez com que os bolcheviques mudassem de plano.
Provavelmente Nicolau II não foi nem o santo descrito pelos monarquistas nem o monstro apresentado pelos comunistas. Foi o ator meio impotente de um período conturbado por vários conflitos, dentre eles a desastrosa campanha contra o Japão (1904-1905) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A situação caótica da Rússia de seu tempo causou grande aumento de preços e escassez generalizada, o que, evidentemente, se traduziu em distúrbios sociais. Pinta-se um quadro tão negro que se diz que a taxa de suicídios triplicou nos últimos anos de seu governo. Com base nesse cenário, é pouco provável que mesmo um soberano mais experiente e menos indeciso que Nicolau II conseguisse evitar a catástrofe. Em 1917 o czar foi obrigado a renunciar ao trono que sua família ocupava há 300 anos, deixando, nas mãos dos revolucionários, o governo de um império que ia do Mar Báltico ao Oceano Pacífico e que abrigava 130 milhões de pessoas.
Ao largar a coroa Nicolau II foi preso e levado de trem através da Sibéria até a cidade mineira de Ecaterimburgo, a 1.500 quilômetros de Moscou. Ali ficou detido, junto com sua família, durante 16 meses em uma pequena casa cercada com muros altíssimos. Incomunicável, até o fim guardou a certeza de que seus ex-súditos derrubariam os bolcheviques e o recolocariam no trono. Essa esperança foi sua sentença de morte. Com medo de que os contra-revolucionários descobrissem o esconderijo, os bolcheviques pressionaram Moscou, que terminou por enviar um telegrama no dia 16 de julho de 1918 com a ordem de executar os Romanov. Na noite seguinte o czar, sua mulher e seus cinco filhos, além de quatro empregados e do cachorro de estimação das crianças, foram levados ao porão da casa e amontoados em uma pequena sala sem móveis. Ali foram fuzilados por um grupo de camponeses e ex-presidiários comunistas liderados por Yakov Yurovsky, um fotógrafo profissional. Em poucos segundos os corpos empilhavam-se no chão. Alexei, herdeiro do trono, tinha 14 anos quando morreu. Era o mais jovem membro da família.
O medo da reação popular fez com que os matadores, a mando de Lenin, tentassem livrar-se das provas da execução. Os corpos foram esquartejados, queimados com ácido e o que sobrou acabou enterrado em uma vala comum no meio da floresta siberiana. Lá permaneceram até 1979, quando foram encontrados por um cineasta e um geólogo. Os dois guardaram segredo do achado por dez anos. Após, 80 anos depois de sua morte, a família imperial ganha a chance de conseguir, enfim, descansar em paz.
fonte: http://www.miniweb.com.br/historia/Artigos/i_contemporanea/romanov.html
e ; educaterra.terra.com.br/.../
Não digo que os czares da Rússia foram bons governantes, que davam tudo a todos, mas uma coisa é certa: o modo como foram assassinados foi brutal. Com o pretexto de tirar uma foto, os bolcheviques uniram a família Romanov e simplesmente os reduziram a pó, atirando como loucos. Apesar dos czares terem sido representantes terríveis,que pouco se preocupavam com a população russa,acho que ninguém merece uma morte como aquela, realmente.
ResponderExcluirPara mais informações dos czares, sugiro que leiam o livro "O palácio de Inverno", de John Boyne. Ele retrata um pouco a vida dentro - e, uma parte, fora - do palácio, sob olhar de um pobre habitante da vila grotesca de Cáchin.